A cada ano, centenas de turistas aproveitam a festa do Maior São João do Mundo para conhecer melhor os nossos costumes e particularidades. Lá se encontra a maior diversidade cultural do nosso povo, e é possível apreciar culinária, artesanato, moda, literatura de cordel e muitas outras tradições que passam de geração em geração.
Um dos maiores exemplos de nossa riqueza cultural é o comércio de mangaio, que ficou eternizado na canção “Feira de Mangaio”, de Sivuca, cantada por Clara Nunes. Apesar de estar meio esquecido, ainda consegue manter os mesmos moldes do tempo áureo.
Os armazéns de mangaio surgiram para atender às necessidades da população que vinha da zona rural, oferecendo alpercatas de couro, ancoretas para água, bornás, arreio de cangalha” e muitos outros utensílios que para muitos não fazem o menor sentido, mas para o homem da roça era indispensável.
Mesmo com toda modernidade, o mangaio ainda é administrado por algumas pessoas da mesma forma de 50 anos atrás, como o comerciante José Farias, de 71 anos, que há 57 trabalha com esse tipo de comércio. “Comecei como empregado, mas em pouco tempo consegui comprar meu próprio armazém e estou até hoje trabalhando do mesmo jeito. Os fregueses é que mudaram: antes era o matuto que vinha comprar fumo de rolo, lata d’àgua, cartucheira… mas hoje vem gente de fora querendo presentear amigos e parentes”, conta. Alguns armazéns ainda mantêm balanças antigas, onde pesam chumbo e pólvora para fazer recarga de espingardas artesanais utilizadas para prática de pequenas caças.
Manter o mangaio é uma tradição familiar, como comprova Ronaldo Cavalcante, 45 anos, comerciário que trabalha como mangaieiro para a mesma família há 35 anos.“Trabalhei com o pai, que manteve o comércio por 50 anos, e depois o filho deu continuidade, sempre seguindo o mesmo estilo. Nossos melhores clientes hoje são turistas de várias regiões do Brasil e também do exterior, que vem no mês de junho e dobram o volume de vendas”, diz. Por isso procura manter o armazém como “uma bodega do interior, como era no passado, oferecendo artigos que possam agradar a esse público que gosta de artigos regionais diferenciados”.
Escucha la canción acompañando la letra
Fumo de rolo, arreio de cangalha
Eu tenho pra vender, quem quer comprar?
Bolo de milho, broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar?
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui, me deixa trabalhar!
E Zé saiu correndo pra feira dos pássaros
E foi passo-voando pra todo lugar
Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Juá
Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar?
Farinha, rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar?
Pavio de candeeiro, panela de barro
Menino vou me embora, tenho que voltar
Xaxar o meu roçado, que nem boi de carro
Alpargata de arrasto não quer me levar
Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem Zefa de Porcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar
Ei, forró da muléstia!
Eita, sanfoneiro da gota serena!